sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Mutações nos Comportamentos e na Cultura (1ª metade do Século XX)

a) Transformações na vida e na cultura
Nas vésperas da 1ª Guerra Mundial verificava-se uma crescente concentração populacional que veio provocar significativas alterações na vida e nos valores tradicionais do mundo ocidental: um novo modo de viver e de convívio no meio da multidão.

I) Uma nova sociedade
Ao concentrar-se nas cidades, a população abandona hábitos e vínculos sociais anteriores e adquire novas formas de sociabilidade, num ambiente estranho e, por vezes, hostil. Este desenraizamento individual desumaniza e despersonaliza a vida urbana que segue um modelo estandardizado, ou seja, a vida urbana atinge a massificação (género de vida na cidade em que os comportamentos seguem normas, padrões e práticas, tornando as pessoas indiferenciadas) – saída para o emprego, uso dos meios de transporte, viver em apartamentos, compra dos mesmos produtos e realização das mesmas tarefas, nos tempos livres, por ex. (cafés, cinema, desporto).
Surge uma nova visão de ócio e forma de organizar os tempos e espaços dedicados ao lazer e lugares públicos de convívio: jardim, clubes nocturnos, esplanadas, etc. A racionalização e consequente redução do tempo de trabalho, assim como a melhoria do nível de vida, permitiram dispor de tempo e dinheiro para o divertimento e o prazer. Abriu-se um outro ciclo de solidariedade humana e convivência entre sexos, de modo mais ousado e livre, que rompeu com todas as regras sociais impostas até aqui. O ritmo de vida torna-se frenético e o gosto pela acção e pela velocidade é visível pela prática desportiva e uso do automóvel, no aparecimento de novos ritmos como o Jazz, o fox trot ou o charleston, que fazem moda para escândalo dos mais conservadores. As viagens e as férias democratizam-se.
Inicialmente, as mudanças limitavam-se às camadas superiores da sociedade, mas cedo se estendem às camadas inferiores, desejosas de imitar os novos padrões, veiculados pelo novo e poderoso meio de massas – o cinema, não esquecendo o rádio.

II) A crise dos valores tradicionais
O progresso e cultura que dava ao mundo ocidental uma superioridade na viragem do século foi posta em causa pela 1ª Guerra Mundial desmoronando toda a moral burguesa anterior, como referido anteriormente relativamente aos comportamentos.
A morte de milhões de soldados, a miséria e a destruição gerou um sentimento de desalento e descrença no futuro, afectando toda a sociedade. Por outro lado, a massificação da vida urbana, a laicização da sociedade e as novas concepções científicas e culturais são também responsáveis por esta ruptura no padrão de valores e comportamentos sociais vigentes.
Deu-se uma profunda crise de consciência que atinge todos os sectores da vida: na família (métodos anticoncepcionais levam ao controlo da natalidade e à sua redução), no casamento (regulamentação do divórcio torna o casamento mais instável), na moral sexual (dissocia-se da função reprodutora), na religião, no papel da mulher, em toda a conduta social (Anomia social – conjunto de comportamentos desviantes por parte de alguns indivíduos alheando-se das regras impostas pelo grupo – em que este chega a já não distinguir o certo do errado).

III) A emancipação da mulher
O novo papel que a mulher vai ocupar na sociedade é bem exemplo das alterações verificadas. Nos “Loucos Anos 20”, fruto da euforia do pós-guerra (procura de prazer e evasão – anos de recuperação económica, confiança no futuro, desejo de esquecer o horror da guerra), as jovens sobem as saias até ao tornozelo, cortam o cabelo à rapaz, e desafiam as convenções sociais (vida nocturna). No entanto, este foi apenas o lado escandaloso do nascente feminismo (luta levada a cabo pelas mulheres com vista a obter a igualdade de direitos para ambos os sexos) ou da emancipação da mulher.
Este movimento, iniciado nos finais do século XIX, começa por reivindicar certos direitos das mulheres casadas: propriedade dos bens, tutela dos filhos, acesso à educação e a uma carreira profissional, num esforço de tirar a mulher da posição secundária e subalterna que a obrigavam a ter na sociedade burguesa. Já no século XIX, a mulher lutava pelo direito ao voto – Sufragistas (defensoras do alargamento do voto às mulheres / sufrágio universal). Estas destacavam-se através de acções como manifestações e greves de fome.
Em Portugal, em 1909, surge a Liga Republicana das Mulheres Portuguesas e, em 1911, a Associação de Propaganda Feminina com os mesmos objectivos, salientando-se nomes como Ana Castro Osório e Carolina Beatriz Ângelo, entre outras.
As feministas utilizaram várias formas de chamar a atenção (moda, vestuário, cabelo, substituição do espartilho pelo soutien, etc.). Tudo o que significasse uma libertação da mulher em relação aos preceitos tradicionais. Inicialmente, alvo de escárnio e censura, após a 1ª Guerra, as mulheres rapidamente conquistaram as suas reivindicações. Para este facto, muito terá contribuído a força das mulheres e sua adaptação às circunstâncias trazidas pelo conflito mundial, pois estas tinham conseguido substituir o homem em praticamente todas as tarefas. Valorizando as pretensões das mulheres e dando-lhes autoconfiança. Assim, ao terminar o conflito, na maioria dos países, tinham já conseguido tudo aquilo porque haviam lutado antes.
Entre as principais conquistas dos movimentos feministas na final dos anos 20 destaca-se o reconhecimento às mulheres, em muitos países: do direito a votar e exercer funções políticas; pleno acesso aos cargos públicos; igualdade no quadro familiar e no trabalho; o convívio social e frequência dos espaços públicos e todas as conquistas na forma de vestir e apresentar.
É uma emancipação limitada a áreas sociais restritas, no entanto é um passo importante para o caminho que as mulheres terão de percorrer. Nas décadas seguintes verifica-se um certo retrocesso, com a mulher a voltar aos seus papeis mais tradicionais (esposa, mãe, dona de casa), para só nos anos 60 se começar a verificar uma mudança radical, muito por culpa da revolução sexual trazida pela pílula contraceptiva – uma invenção libertadora.
Embora ainda hoje existam algumas resistências, sobretudo na prática, à consignada igualdade da mulher.

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