terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O MUNDO CAPITALISTA

O tempo da Guerra Fria – A consolidação de um mundo bipolar

O afrontamento entre as duas superpotências e os seus aliados prolongou-se até meados dos anos 80, altura em que o bloco soviético mostrou os primeiros sinais de fraqueza.
Durante este longo período, os EUA e a URSS intimidaram-se mutuamente, gerando um clima de hostilidade e insegurança que deixou o mundo num permanente sobressalto. É este clima de tensão internacional que designamos por Guerra Fria.

Guerra Fria: Expressão criada para designar o estado de tensão entre os EUA e a URSS a seguir à 2ª guerra mundial, que se caracterizou pelo facto de as duas potências não registarem qualquer confronto directo, mas interferirem em conflitos à escala regional em campos opostos.

A guerra fria foi uma autêntica “guerra de nervos” em que cada bloco se procurou superiorizar ao outro. Uma gigantesca máquina de propaganda inculcava nas populações a ideia da superioridade do seu sistema e a rejeição e o temor do lado contrário, ao qual se atribuíam as intenções mais sinistras e os planos mais diabólicos.
Mais do que ambições hegemónicas das duas superpotências, eram duas concepções opostas de organização política, via económica e estruturação social que se confrontavam: de um lado, o liberalismo, assente sobre o princípio da liberdade individual; do outro, o marxismo, que subordina o indivíduo ao interesse da colectividade.

O confronto político-militar estender-se-á até meados dos anos 80 e irá alternar períodos de grande tensão e de alguma acalmia:
Entre 1945 e 1955 – consolida-se o bipolarismo com campanhas de propaganda ideológica e corrida aos armamentos, instalando o receio de uma guerra atómica. Após a morte de Estaline (1953) inicia-se a fase coexistência pacífica, que reabriu o diálogo entre soviéticos (Kruchtchev) e americanos (Eisenhower);
Na década de 60, este clima não impediu a construção do Muro de Berlim (1961), nem a crise de Cuba (1962) e de diversos conflitos no chamado 3º mundo (áreas de descolonização);
Entre 1975 e 1985 acentuam-se as divergências, devido crise económica (petróleo), à derrota americana no Vietname, afrontamento nuclear. O diálogo e as negociações regressam em 1985, mas só o desmoronamento do bloco soviético, em 1991, iniciará uma nova ordem internacional.

1.2.1. O Mundo Capitalista
A política de alianças dos Estados Unidos

Em termos político-militares, a aliança entre os ocidentais não tardou também a oficializar-se. A tensão provocada pelo bloqueio de Berlim acelerou as negociações que conduziram, em 1949, ao Tratado do Atlântico Norte, firmado entre os Estados Unidos, o Canadá e 10 nações europeias. A operacionalização deste tratado deu origem à Organização do Tratado do Atlântico Norte – OTAN (ou NATO, em inglês).
O pacto da OTAN é bem demonstrativo da desconfiança que então impregnava as relações internacionais. A aliança apresenta-se, assim, como uma organização puramente defensiva, empenhada em resistir a um inimigo que está omnipresente: a União Soviética.
Esta sensação de ameaça e a vontade de consolidar a sua área de influência lançaram os EUA numa autêntica “pactomania” que os levou a constituir um vasto leque de alianças, um pouco por todo o mundo. Para além da OTAN, firmaram-se alianças multilaterais na América. Estas alianças foram complementadas com diversos acordos de carácter político e económico, de tal forma que, cerca de 1959, 3 quartas partes do mundo alinhavam, de uma forma ou de outra, pelo bloco americano.

· A prosperidade Económica

O crescimento económico do pós-guerra estruturou-se em bases sólidas. Os governos não só assumiram grandes responsabilidades económicas, como delinearam planos de desenvolvimento coerentes, que permitiram estabelecer prioridades, rentabilizar a ajuda Marshall e definir directrizes futuras. Externamente, os acordos de Bretton Woods e a criação de espaços económicos alargados (como a CEE) tiveram um papel semelhante, harmonizando e fomentando as relações económicas internacionais.
O capitalismo emergiu dos escombros da guerra e atingiu o seu auge. Entre 1945 e 1973, a produção mundial mais do que triplicou. As economias cresceram de forma contínua, sem períodos de crise. As taxas de crescimento especialmente altas de certos países, como a RFA, a França, o Japao, surpreenderam os analistas, que começaram a referir-se-lhes como “milagre económico”. Estes cerca de 30 anos de uma prosperidade material sem precedentes ficaram na História como os “Trinta Gloriosos”.
A expansão económica dos 30 Gloriosos conjuga o desenvolvimento de processos já iniciados com aspectos completamente novos. Podemos destacar:
· A aceleração do progresso tecnológico, que atingiu todos os sectores;
· O recurso ao petróleo como matéria energética por excelência, em detrimento do carvão;
· O aumento da concentração industrial e do número de multinacionais;
· A modernização da agricultura;
· O aumento significativo da população activa. Para além de mais numerosa, a mão-de-obra tornou-se também mais qualificada;
· O crescimento do sector terciário.

A sociedade de consumo

O efeito mais evidente dos Trinta Gloriosos foi a generalização do conforto material. A sociedade de consumo transformou os lares e o estilo de vida da maioria da população dos países capitalistas.
Nesta sociedade de abundância, o cidadão comum é permanentemente estimulado a despender mais do que o necessário. Multiplicam-se os grandes espaços comerciais, verdadeiros santuários do consumo, onde os objectos, estrategicamente dispostos, se encontram ao alcance da mão do potencial comprador. Uma publicidade bem orquestrada lembra as pequenas e grandes maravilhas a que todos “têm direito” e que as vendas a crédito permitem adquirir.
O consumismo instala-se duradouramente e torna-se o emblema das economias capitalistas da segunda metade do século XX.

· A afirmação do Estado-Providência

A superação das dificuldades associadas à crise de 1929 implicou o aumento da intervenção do Estado nos planos económico e social e o nascimento do Estado-Providência ou do bem-estar social [onde cada cidadão tem asseguradas as suas necessidades básicas “do berço ao túmulo”].
Ainda durante a guerra, o empenhamento do Estado nas questões sociais foi activamente defendido por Beveridge. Este confiava que um sistema social alargado teria como efeito a eliminação dos “cinco grandes males sociais”: carência, doença, miséria, ignorância e ociosidade.
A abrangência das medidas adoptadas em Inglaterra e a ousadia do estabelecimento de um sistema de saúde assente na gratuidade total dos serviços médicos e extensivo a todos os cidadãos, serviram de modelo à maioria dos países europeus.
O sistema de protecção social generaliza-se a toda a população: passando a acautelar as situações de desemprego, acidente, velhice e doença; estabelecem-se prestações de ajuda familiar. Ampliam-se as responsabilidades do Estado no que respeita à habitação, ao ensino e à assistência médica.

Este conjunto de medidas visa um duplo objectivo:
· Reduz a miséria e o mal-estar social contribuindo para uma repartição mais equitativa da riqueza;
· Assegura uma certa estabilidade à economia, já que evita descidas drásticas da procura como a que ocorreu durante a crise dos anos 30.

A política económica e social das democracias ocidentais

No fim da 2ª guerra mundial, o conceito de democracia adquiriu, no ocidente, um novo significado. Para além do respeito pelas liberdades individuais, do sufrágio universal e do multipartidarismo, considerou-se que o regime democrático deveria assegurar o bem-estar dos cidadãos.
As duas forças políticas que, nesta época, sobressaíram na Europa – o socialismo reformista e a democracia cristã – encontravam-se fortemente imbuídas de preocupações sociais.
Embora de quadrantes muito diferentes, socialistas e democratas-cristãos saíram da guerra prestigiados.
É assim que, logo em 1945, as eleições inglesas dão a vitória ao Partido Trabalhista, liderado por Clement Atlee, que substitui Winston Churchill (Partido Conservador) à frente do governo britânico.
Um pouco por todo o lado, partidos de orientação idêntica viram elevar-se os seus resultados eleitorais tendo, em alguns casos, tomando também as rédeas do poder, como aconteceu na Holanda, nos países Escandinavos (Dinamarca, Noruega, Suécia) e na República Federal Alemã.
Os adeptos da social-democracia conjugam a defesa do pluralismo democrático e dos princípios da livre concorrência económica com o intervencionismo do Estado, cujo objectivo é o de regular a economia e promover o bem-estar dos cidadãos.

Social-Democracia: Corrente ideológica cujas origens remontam ao pensamento de Eduard Bernstein, nos finais do séc.XIX, que, partindo da crítica ao sistema capitalista e à necessidade de revisão do marxismo, ao negar nomeadamente a luta de classes, defendeu a construção do socialismo através de reformas graduais levadas a cabo por governos resultantes de processos eleitorais democráticos.

A democracia-cristã tem a sua origem na doutrina social da igreja que condena os excessos do liberalismo capitalista, atribuindo igualmente aos estados a missão de zelar pelo bem-comum.
Os democratas-cristãos consideram que o plano temporal e espiritual embora distintos, não se podem separar. Os princípios do cristianismo devem enformar todas as acções dos cristãos. Propõem uma orientação profundamente humanista, alicerçada na liberdade, na justiça e na solidariedade. Procura-se subverter o espírito essencialmente laico da democracia transformando-o num campo de aplicação de valores intrinsecamente cristãos.

Sociais-Democratas e Democratas-cristãos convergem no mesmo propósito de promover reformas económicas e sociais profundas. Na Europa do pós-guerra, os governos lançam-se num vasto programa de nacionalizações. O Estado torna-se o principal agente económico do país, o que lhe permite exercer a sua função reguladora da economia.

Paralelamente, revê-se o sistema de impostos, reforçando-se o carácter progressivo das taxas. Um tal conjunto de medidas modificou, de forma profunda, a concepção liberal de Estado dando origem ao Estado Providência.

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