segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O FUNCIONALISMOS NA ARQUITECTURA

A consciência colectivista que marcou a cultura entre as duas guerras manifestou-se também na arquitectura. Numa Europa destruída, os governos viram-se na necessidade de reerguer numerosos edifícios e de realojar os seus cidadãos. Impunha-se uma construção simples, barata mas digna.
Existia, nesta época, a convicção de que só um planeamento eficiente, altamente racionalizado, podia suprir as carências habitacionais e gerar o bem-estar e a felicidade de todos.
Define-se assim por Funcionalismo, o conjunto de soluções arquitectónicas inovadoras que marca o início de uma arquitectura verdadeiramente moderna. O funcionalismo une estreitamente a forma e a função numa economia de custos e racionalidade de linhas, pondo em evidência a estrutura volumétrica dos edifícios.

O Primeiro Funcionalismo

A revolução estética do inicio do século tinha preparado as mentalidades e os arquitectos para a necessária revolução arquitectónica. Walter Gropius construíra a célebre Fábrica Fagus que suscitou, na altura, dúvidas infundadas quanto à sua estabilidade. O certo é que a construção saiu muito mais barata do que a tradicional.
É também pela mão de Walter Gropius que se funda a Bauhaus, uma escola de artes de concepção inovadora que teve uma influência marcante no design e na arquitectura moderna. O carácter funcionalista das produções saídas da escola Bauhaus está patente não só nas concepções dos arquitectos a eles ligados, mas sobretudo na criação artística ao serviço das necessidades elementares do quotidiano. Foi com este movimento artístico que o design adquiriu o estatuto de arte, quando aplicado à criação de novos padrões de mobiliário e de vestuário.
No entanto, a renovação da arquitectura europeia ficou indissoluvelmente ligada à figura de Charles Edouard Jeanneret, arquitecto francês de origem suíça, mais conhecido como Le Corbusier. Le Corbusier foi a imagem da racionalidade na arquitectura modernista europeia.

O carácter racionalista do funcionalismo de Le Corbusier está patente:
• na nova concepção do espaço, o espaço concebido à dimensão do Homem. A casa deve ser concebida e planeada conforme o tamanho que a sua função exigisse;

• na assunção do principio de que cada elemento arquitectónico de uma construção deve assumir a sua função, deve ser prático, de tal forma prático que a casa deve ser concebida como uma “máquina de habitar”;

• na geometrização cubista da composição do espaço da construção, o que pressupõe a simplificação dos volumes e a redução das construções a sólidos geométricos cujo volume, à boa maneira cubista, é perceptível de um único ponto de vista;

• na concepção de fachadas, rasgadas por amplas janelas, que, no seu conjunto, dão a ilusão de uma janela contínua que inunda o interior de ar e de luz natural;

• introdução da cobertura plana que coloca a casa directamente em contacto com o exterior e cuja funcionalidade se traduz no seu aproveitamento com espaço de lazer;

• elevação do edifício sobre pilares, o que permite também o aproveitamento do espaço sobre o qual a casa parece suspensa para embelezamento da área de construção;

• na contenção decorativa e na sobriedade das formas. O branco, por exemplo, é a cor dominante em paredes lisas;

• na preocupação em construir para resolver problemas da habitação das cidades europeias que o levou a conceber as “unidades de habitação” – complexos predominantemente habitacionais urbanos;

• na integração de outras funções e actividades complementares nos edifícios predominantemente residenciais

O segundo Funcionalismo

No decurso da década 30, a arquitectura funcionalista sofreu uma crescente contestação. Acusavam-na de excessiva rigidez e de traçar gélidos planos de casas despersonalizadas. É desta forma que o novo estilo perde muito do seu carácter inovador e esgota-se em repetições de fórmulas preestabelecidas.
Através de Frank Wright, arquitecto americano, criador da arquitectura orgânica, adopta-se a sua ideia de que era possível conceber construções à medida do Homem, não só à medida física, mas também à medida espiritual.

A sua obra reflecte os princípios fundamentais da arquitectura organicista:

• a concepção do edifício como um ser vivo que vai crescendo segundo as leis biológicas, isto é, na sua construção o edifício cresce em harmonia com o ambiente natural que se insere;

• a individualidade de cada solução, pois cada caso era singular e único, do que resultava a rejeição da sobreposição de andares nos edifícios urbanos;
• a assimetria, a diversidade e a originalidade deveriam ser as determinadas da composição e da organização do espaço;

• a busca da relação entre o espaço interior e exterior, sendo as formas exteriores do edifício determinadas em função do livre planeamento do espaço interior;

• recurso a materiais inovadores e a novas tecnologias construtivas, com preferência para os materiais característicos da região onde o edifício se insere;

• a preferência pela habitação unifamiliar, concebida como refugio e lugar de recolhimento dos seus residentes.

AS PREOCUPAÇÕES URBANISTICAS

A renovação arquitectónica pretendia pelos funcionalistas, não podia dissociar-se da cidade no seu todo.
Há muito que o crescimento populacional fraccionara os pólos urbanos. A cidade do século XX era constituída por vários aglomerados, muitas vezes distribuídos de uma forma anárquica, que os funcionalistas procuraram reorganizar segundo critérios de racionalidade.
Os debates sobre arquitectura e urbanismo originaram a primeira Conferencia Internacional de Arquitectura Moderna (CIAM), que foi seguida de muitas outras.
Depois de uma análise crítica de diversas cidades, as conclusões da conferência foram publicadas na célebre Carta de Atenas, que se tornou numa espécie de guia do urbanismo funcionalista. Segundo a Carta, a cidade deve satisfazer quatro funções principais: habitar, trabalhar, recrear o corpo e o espírito, e circular. Numa lógica estritamente funcionalista cada uma destas funções ocuparia uma zona específica da cidade. As três zonas articular-se-iam por uma eficiente rede de vias de comunicação.
Embora estas propostas tenham sido, posteriormente, consideradas demasiado racionalistas e redutoras, a Carta teve o mérito de colocar as questões sociais no centro do planeamento urbano.

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