segunda-feira, 29 de novembro de 2010
A CULTURA E O DESPORTO AO SERVIÇO DOS ESTADOS
Democráticos ou totalitários, nenhum regime dispensou os novos veículos de informação nos seus programas de intervenção política.
Os progressos técnicos verificados na imprensa, na rádio e no cinema foram aproveitados pelos poderes políticos:
- se democráticos, para promoverem o desenvolvimento da consciência cívica dos cidadãos no sentido de os empenharem cada vez mais nas questões de interesse publico e de os levar a aderir de forma racional às diversas opções propostas;
- se totalitários, para institucionalizarem a divulgação propagandística da sua acção governativa, com o objectivo de impor uma orientação ideológica nacionalista, tendo em vista a mobilização e a arregimentação da população, num quadro político-social nacional onde não haja lugar à diversidade ideológica.
A ARTE AO SERVIÇO DA PROPAGANDA POLÍTICA
Com a emergência e afirmação dos regimes totalitários, a liberdade criativa que caracterizou os primeiros anos do século XX deu lugar a uma criação artística fortemente condicionada pelos interesses políticos.
Com Estaline na URSS, os artistas e homens de letras são obrigados a agruparem-se em cooperativas de intelectuais, e a seguir, na sua actividade de criação literária e plástica, os parâmetros definidos pelo Estado. Aos criadores compete enaltecer concretamente as conquistas do proletariado, os êxitos económicos resultantes da economia colectivizada e planificada, o empenhamento dos trabalhadores na construção do Estado socialista, a excelência do centralismo democrático, as grandes obras do Estado e, claro, a figura do chefe.
Nos Estados totalitários conservadores, são idênticos os objectivos da criação artística, mas, colocada ao serviço dos valores nacionais, a superioridade da raça ariana, na Alemanha, ou a grandeza do povo romano, na Itália, por exemplo.
A POLITIZAÇÃO DO DESPORTO
Também a prática desportiva cedo deixou de ser uma actividade de lazer descomprometida para dar lugar a manifestações de afirmação nacionalista.
A disputa levada a cabo pelos competidores, identificados pelos símbolos nacionais, passou a representar a disputa nacionalista dos países por que competiam. Deste modo, a superioridade desportiva verificada nas diversas modalidades identificava-se com a superioridade das Nações em competição, tão frenética era a aclamação das vitórias por parte das multidões.
O FUNCIONALISMOS NA ARQUITECTURA
Existia, nesta época, a convicção de que só um planeamento eficiente, altamente racionalizado, podia suprir as carências habitacionais e gerar o bem-estar e a felicidade de todos.
Define-se assim por Funcionalismo, o conjunto de soluções arquitectónicas inovadoras que marca o início de uma arquitectura verdadeiramente moderna. O funcionalismo une estreitamente a forma e a função numa economia de custos e racionalidade de linhas, pondo em evidência a estrutura volumétrica dos edifícios.
A revolução estética do inicio do século tinha preparado as mentalidades e os arquitectos para a necessária revolução arquitectónica. Walter Gropius construíra a célebre Fábrica Fagus que suscitou, na altura, dúvidas infundadas quanto à sua estabilidade. O certo é que a construção saiu muito mais barata do que a tradicional.
É também pela mão de Walter Gropius que se funda a Bauhaus, uma escola de artes de concepção inovadora que teve uma influência marcante no design e na arquitectura moderna. O carácter funcionalista das produções saídas da escola Bauhaus está patente não só nas concepções dos arquitectos a eles ligados, mas sobretudo na criação artística ao serviço das necessidades elementares do quotidiano. Foi com este movimento artístico que o design adquiriu o estatuto de arte, quando aplicado à criação de novos padrões de mobiliário e de vestuário.
No entanto, a renovação da arquitectura europeia ficou indissoluvelmente ligada à figura de Charles Edouard Jeanneret, arquitecto francês de origem suíça, mais conhecido como Le Corbusier. Le Corbusier foi a imagem da racionalidade na arquitectura modernista europeia.
• na assunção do principio de que cada elemento arquitectónico de uma construção deve assumir a sua função, deve ser prático, de tal forma prático que a casa deve ser concebida como uma “máquina de habitar”;
• na geometrização cubista da composição do espaço da construção, o que pressupõe a simplificação dos volumes e a redução das construções a sólidos geométricos cujo volume, à boa maneira cubista, é perceptível de um único ponto de vista;
• na concepção de fachadas, rasgadas por amplas janelas, que, no seu conjunto, dão a ilusão de uma janela contínua que inunda o interior de ar e de luz natural;
• introdução da cobertura plana que coloca a casa directamente em contacto com o exterior e cuja funcionalidade se traduz no seu aproveitamento com espaço de lazer;
• elevação do edifício sobre pilares, o que permite também o aproveitamento do espaço sobre o qual a casa parece suspensa para embelezamento da área de construção;
• na contenção decorativa e na sobriedade das formas. O branco, por exemplo, é a cor dominante em paredes lisas;
• na preocupação em construir para resolver problemas da habitação das cidades europeias que o levou a conceber as “unidades de habitação” – complexos predominantemente habitacionais urbanos;
• na integração de outras funções e actividades complementares nos edifícios predominantemente residenciais
O segundo Funcionalismo
No decurso da década 30, a arquitectura funcionalista sofreu uma crescente contestação. Acusavam-na de excessiva rigidez e de traçar gélidos planos de casas despersonalizadas. É desta forma que o novo estilo perde muito do seu carácter inovador e esgota-se em repetições de fórmulas preestabelecidas.
Através de Frank Wright, arquitecto americano, criador da arquitectura orgânica, adopta-se a sua ideia de que era possível conceber construções à medida do Homem, não só à medida física, mas também à medida espiritual.
A sua obra reflecte os princípios fundamentais da arquitectura organicista:
• a concepção do edifício como um ser vivo que vai crescendo segundo as leis biológicas, isto é, na sua construção o edifício cresce em harmonia com o ambiente natural que se insere;
• a individualidade de cada solução, pois cada caso era singular e único, do que resultava a rejeição da sobreposição de andares nos edifícios urbanos;
• a assimetria, a diversidade e a originalidade deveriam ser as determinadas da composição e da organização do espaço;
• a busca da relação entre o espaço interior e exterior, sendo as formas exteriores do edifício determinadas em função do livre planeamento do espaço interior;
• recurso a materiais inovadores e a novas tecnologias construtivas, com preferência para os materiais característicos da região onde o edifício se insere;
• a preferência pela habitação unifamiliar, concebida como refugio e lugar de recolhimento dos seus residentes.
AS PREOCUPAÇÕES URBANISTICAS
Há muito que o crescimento populacional fraccionara os pólos urbanos. A cidade do século XX era constituída por vários aglomerados, muitas vezes distribuídos de uma forma anárquica, que os funcionalistas procuraram reorganizar segundo critérios de racionalidade.
Os debates sobre arquitectura e urbanismo originaram a primeira Conferencia Internacional de Arquitectura Moderna (CIAM), que foi seguida de muitas outras.
Depois de uma análise crítica de diversas cidades, as conclusões da conferência foram publicadas na célebre Carta de Atenas, que se tornou numa espécie de guia do urbanismo funcionalista. Segundo a Carta, a cidade deve satisfazer quatro funções principais: habitar, trabalhar, recrear o corpo e o espírito, e circular. Numa lógica estritamente funcionalista cada uma destas funções ocuparia uma zona específica da cidade. As três zonas articular-se-iam por uma eficiente rede de vias de comunicação.
Embora estas propostas tenham sido, posteriormente, consideradas demasiado racionalistas e redutoras, a Carta teve o mérito de colocar as questões sociais no centro do planeamento urbano.
AS PREOCUPAÇÕES NA LITERATURA E NA ARTE
Numa Europa marcada ainda pelas dificuldades do pós-guerra e com os olhos postos na Revolução Soviética, cresceu o sentimento de que a literatura e a arte não possuíam um valor puramente estético mas tinham também uma missão social a cumprir. A profunda crise económica desencadeada em 1929 veio avolumar este sentimento.
A DIMENSÃO SOCIAL DA LITERATURA
As temáticas psicológicas ligadas à vida interior, que tinham feito escola nos anos do pós-guerra, deixaram de interessar alguns escritores dos anos 30. A depressão económica gerada nos excessos do capitalismo liberal proporcionou-lhes novas motivações e novas temáticas – a realidade material da condição humana.
São os tempos do Neo-Realismo ou Realismo Social. Os assuntos relacionados com as condições socioeconómicas dos trabalhadores e a análise da luta de classes, tratados numa linha ideológica marxista, visando denunciar o fenómeno da exploração capitalista do trabalho, constituíam temas privilegiados pelos autores neo-realistas. A literatura passa a associar as preocupações com os novos problemas sociais e políticos:
• os protagonistas deixam de ser personagens singulares e tornam-se tipos sociais.
• o tema fundamental era a luta entre exploradores e explorados, uma criação em que o burguês capitalista representa todo o mal humano e em que o proletário simboliza a defesa das verdade histórica e da justiça.
Com a ascensão dos regimes totalitários e com os problemas políticos gerados pela eclosão da Segunda Guerra Mundial, acentua-se o carácter social da nova produção literária que ganha também uma dimensão política na denúncia romanceada das agressões à democracia e ao socialismo ou ao apoio aos respectivos regimes.
terça-feira, 23 de novembro de 2010
A DIMENSÃO SOCIAL E POLÍTICA DA CULTURA
Sendo assim, a cultura de massas apresenta-se como uma cultura:
• estandardizada e produzida em série nas suas múltiplas formas, como qualquer bem de consumo;
• democrática, pelos baixos preços a que é lançada no mercado;
• efémera, uma autentica cultura descartável, com o objectivo de proporcionar prazer imediato;
• que aborda os temas de maneira superficial, sem grande preocupações literárias ou estéticas;
• que visa apaziguar tensões e angustias geradas no quotidiano laboral;
• que visa homogeneizar um tipo de pessoa média, pelo inculcação de valores e de modelos comportamentais, através da publicidade e do marketing.
Os mass media divulgavam-nos cada vez mais, fazendo dos temas desportivos um produto jornalístico consumido pela sociedade urbana.
OS MEDIA, VEÍCULO DE MODELOS SOCIOCULTURAIS
Por mass media entende-se o conjunto dos meios de comunicação capazes de transmitir grande quantidade de informação a grandes quantidades de população.
Na primeira metade do século, a imprensa, a rádio e o cinema, fizeram chegar todo o tipo de mensagens a camadas cada vez mais vastas da população, afirmando-se como os grandes veículos de difusão dos valores e das normas de comportamento.
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
OS GOVERNOS DE FRENTE POPULAR E A MOBILIZAÇÃO DOS CIDADÃOS
Na Inglaterra:
Em 1936, o incidente da crise dinástica que levou à abdicação de Eduardo VII e a ascensão nazi na Alemanha fizeram com que os Ingleses começassem a temer os avanços de direita no xadrez político internacional. Por iniciativa dos Trabalhistas, formou-se então uma “frente popular” que coligou os partidos de esquerda, mas teve curta duração. Entretanto, e face à ameaça nazi, optou-se por um governo de “união nacional”, onde se encontravam incluídos todos os partidos com representação parlamentar, dos Liberais aos Trabalhistas que conviveram democraticamente e alternaram no poder. Na França:
Em 1936, os socialistas ganharam as eleições e formaram um governo de coligação de esquerda, denominado de Frente Popular, que obteve o apoio de radicais e comunistas. Na chefia da Frente Popular foi levado a cabo um programa de reformas sociais, no campo do trabalho e da assistência, e de desarmamento e pacificação. Foi o governo da Frente Popular que introduziu as primeiras grandes reformas de carácter social. Tentando acalmar as reivindicações sindicais e a onda grevista, o governo encetou negociações entre o patronato e os delegados da Confederação Geral dos Trabalhadores, das quais resultaram o reconhecimento da liberdade sindical, a obrigatoriedade de celebração de contratos colectivos de trabalho e a subida de salários. Por outro lado, promoveu o desenvolvimento dos tempos livres e do lazer, criou os organismos de cultura popular. No plano económico, a Frente Popular francesa preocupou-se com a recuperação da agricultura, procurando conciliar os interesses dos produtores e dos consumidores, regulamentando a produção e tabelando os preços. Contudo, a Frente Popular francesa encontrou grande oposição interna e um clima internacional complicado, razões que explicam que parte destas medidas tivesse ficado por aplicar. Na Espanha:
Também a Espanha conheceu, nesse período, um governo de Frente Popular que estabilizou momentaneamente a agitação social, sindical e politica sentida após a implementação da Republica e causada, em boa parte, pelo activismo da oposição monárquica e conservadora. Face ao perigo da direita, os partidos de esquerda formaram uma coligação, que se denominou Partido Operário de Unificação Marxista (POUM). O POUM ganhou as eleições, iniciando uma politica de reformas: · legalizou o direito à greve; · legislou a favor do aumento do salário; · promoveu a ocupação de terras não cultivadas e de fábricas mal geridas. Para além disso, realizou a separação entre a Igreja e o Estado. Em conjunto de medidas desagradou aos sectores mais conservadores que se uniram na Frente Nacional para realizarem a oposição ao governo de Esquerda. O antagonismo entre as duas “frentes” agudizou-se após o assassinato do general Calvo Sotelo, episodio que despoletou a Guerra Civil Espanhola, tendo dado a vitória às forças da Frente Nacional, onde se instaurou um governo ditatorial, fasciszante e corporativo, semelhante ao que o Estado Novo estabeleceu em Portugal.
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
A RESISTÊNCIA DAS DEMOCRACIAS LIBERAIS
As proporções adquiridas no mundo pela crise de 1929 provocaram, porém, o contrário. O economista britânico Jonh Keynes duvidou da capacidade auto-reguladora da economia capitalista, chamando a atenção para a necessidade de um maior intervencionismo (papel activo desempenhado pelo Estado no conjunto das actividades económicas a fim de corrigir os danos ou os inconvenientes sociais derivados da aplicação estrita do liberalismo económico) por parte do Estado.
Keynes criticou as políticas deflacionistas que evitavam as despesas do Estado e combatiam a massa monetária em circulação. Keynes, que cria nas vantagens de uma inflação controlada, defendia uma política estatal de investimento, de luta contra o entesouramento e de ajuda às empresas. Só assim se resolveria o desemprego crónico e se relançariam a procura e a produção de bens.
Concluindo, segundo o Keynesianismo, ao Estado deveria caber um papel activo de organizador da economia e de regulador do mercado e jamais o de simples auxiliar dos homens de negócios.
Numa primeira fase, o New Deal tinha como objectivo a superação dos efeitos da Grande Depressão gerada pela crise de 29. As primeiras preocupações visaram:
· empreendeu uma politica de grandes obras publicas;
· lançou um programa de controlo de produção agrícola e industrial.
É nessa mesma altura que se estabelece a Lei de Wagner, que traduz uma intensa legislação social, de que se destaca a instituição da reforma por velhice e invalidez; do fundo público de desemprego e auxilio aos necessitados; do salário mínimo; da duração do horário semanal de trabalho, entre outros.
A política do New Deal permitiu uma recuperação económica (1939), apesar da recaída de 1937, que fez a economia regressar aos níveis de 1929. Conseguindo evitar perturbações sociais, garantindo a manutenção do sistema capitalista e da democracia liberal.
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
O ESTALINISMO
- Trotsky: líder carismático da revolução bolchevique;
- a construção da sociedade socialista;
Conseguiu a concretização destes através da colectivização dos campos, da planificação económica e do totalitarismo repressivo do Estado.
Lenine interrompeu o processo liberalizador instituído com a NEP e arrancou irreversivelmente para a nacionalização de todos os sectores da economia. Quase não havia propriedade privada na Rússia. O Estado apropriara-se da terra, do subsolo, das instalações fabris, do comércio, de capitais e de outros rendimentos de trabalho, transformando antigos proprietários em simples assalariados.
A oposição a este processo por parte dos kulaks e dos nepman provocou a repressão em massa da população de que resultaram milhões de mortos e deportados para campos de trabalho forçado em mais uma manifestação de força e autoridade do centralismo democrático estalinista.
Eliminada a propriedade privada dos meios de produção, o Estado soviético, seu único detentor em representação dos trabalhadores, implanta uma rigorosa planificação da economia.
A propriedade rural foi organizada segundo dois tipos de propriedade (quintas colectivas/cooperativas de produção) apoiados por parques de máquinas:
· Kokhoses – correspondiam a grandes propriedades agrícolas colectivas trabalhadas pelos camponeses, geralmente da mesma região, em regime cooperativo, sob administração de delegados do partido;
· Sovkhoses – grandes propriedades dirigidas directamente pelo estado, para qual a mão-de-obra trabalhava na qualidade de assalariado,
O comércio foi organizado à semelhança da propriedade rural em cooperativas de consumo local ou em grandes armazéns estatais.
A indústria foi o sector onde mais se fez sentir o rigor da planificação. Estaline desenvolveu uma planificação económica, denominada de Planos Quinquenais, com duração de cinco anos, onde estabeleceu os objectivos a atingir em cada etapa de crescimento:
- no segundo plano (1933 a 1938), o objectivo foi o desenvolvimento da industria ligeira e alimentar, de forma a proporcionar melhor qualidade de vida às populações;
- o terceiro plano, previsto para os cinco anos seguintes, visava o sector energético e as industrias químicas, mas foi interrompido em 1939 com o começo da Segunda Guerra Mundial.
Os planos forma retomados depois da guerra, mas os objectivos foram de recuperação económica do país e a investigação científica, no ambiente de Guerra Fria.
A concretização e o sucesso dos planos construíram outra manifestação da autoridade central. Com efeito, considerando as dificuldades estruturais em que decorreu, a industrialização estalinista só foi possível:
· através de uma forte disciplina que passava pela imposição de trabalhos forçados;
· por deportações em massa de trabalhadores através da instituição de prémios, que podiam ir até à glorificação pública;
· pela propaganda que instituiu o culto a Estaline e ao Estado soviético.
O TOTALITARISMO ESTALINISTA
- Todas as regiões foram russificadas e submetidas a Moscovo.
- Os cidadãos viram-se privados de liberdades fundamentais.
- Só o Partido Comunista monopolizava o poder politico: às eleições apenas se apresentavam os candidatos por ele propostos; por sua vez, o centralismo democrático permitia-lhe o controlo dos órgãos do Estado.
- A superintendência da economia cabia ao Estado: fazia-o através da colectivização e da planificação.
- A própria cultura foi obrigada a exaltar a grandeza do Estado soviético e a render culto à personalidade do seu chefe, Estaline.
Com efeito, com Estaline, o centralismo democrático evoluiu para a ditadura. Mas não foi para a ditadura do proletariado, como propunham as teses marxistas, foi para a ditadura do Partido Comunista.
A partir de 1924, Estaline empreendeu uma maquiavélica perseguição a todos os que revelassem possibilidades de lhe fazer oposição. Levando a cabo sucessivas purgas, através de processos obscuros, eliminou todos os potenciais concorrentes ao poder, incluindo antigos e importantes intervenientes no processo revolucionários, conseguindo que praticamente todos fossem afastados do partido.
O Partido Comunista transformou-se, pois, num partido de quadros, profundamente burocratizado e disciplinado, o que facilitava o reforço dos poderes do Estado.
O Estado totalitário, alicerçado na ditadura do Partido Comunista, aguentou-se à custa de uma repressão brutal, levada a cabo pela NKVD, a nova polícia política. A partir de 1934, a URSS enveredou pela repressão crónica, caracterizada pelas purgas e pelos processos políticos.
Até ao fim da década, dois milhões de pessoas sofreram a deportação para os campos de trabalhos forçados e setecentas mil foram executadas. A ditadura estalinista ficaria associada a um dos regimes mais despóticos da História da Humanidade.
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
AS OPÇÕES TOTALITÁRIAS
Por toda a parte, desenvolveram-se os movimentos políticos de extrema-direita favoráveis ao autoritarismo, isto é, movimentos políticos que atacavam a democracia parlamentar e propunham a implantação de ditaduras. Na Rússia soviética, o totalitarismo adquiriu uma feição revolucionária: nasceu da aplicação do marxismo-leninismo e culminou no estalinismo. Já na Itália e posteriormente na Alemanha, o Estado totalitário foi produto do fascismo e do nazismo e revestiu um cariz mais conservador.
ELITES E ENQUADRAMENTO DAS MASSAS
Homens providenciais ou super-homens, os chefes foram promovidos à categorização de heróis. Simbolizavam o Estado totalitário, encarnavam a Nação e guiavam os seus destinos. Deviam ser seguidos sem hesitação, prestando-se-lhes um verdadeiro culto que raiava a idolatria.
Mas as elites não incluíam apenas os chefes. Delas faziam parte a raça dominante, os soldados e as forças militares, os filiados no partido, os homens de uma forma geral. Consideradas cidadãs inferiores, às mulheres nazis, que estavam destinadas a vida de lar e a subordinação ao marido.
Numa sociedade profundamente hierarquizada e rígida, as elites mereciam o elevado respeito das massas. Em todos os locais, cabia-lhes veicular a ideologia dominante, assegurar o cumprimento estrito da ordem, manter a Nação submissa.
A obediência cega das massas obedeceu a pratica fascista, totalmente avessa a qualquer manifestação de vontade individual e de espírito crítico. Começava logo nos primeiros anos com a integração das crianças em organizações. Na Itália, depois de passarem por sucessivos escalões de formação, os jovens integravam, a partir dos 18 anos, as Juventudes Fascistas. Na Alemanha, entravam nas Juventudes Hitlerianas. Eram desta forma dada uma forte inculcação de valores nacionalistas e anticomunistas nas crianças e jovens.
A arregimentação de italianos e alemães prosseguia na idade adulta, deles esperando a total adesão e a identificação com o fascismo. Contava-se, para efeito, com diversas organizações de enquadramento de massas:
· o Partido Único (Nacional-Fascista – na Itália; Nacional Socialista – na Alemanha), cuja filiação se tornava indispensável para o desempenho das funções publicas e militares e de cargos de responsabilidade;
· a Frente do Trabalho Nacional-Socialista e as corporações italianas, que forneciam aos trabalhadores condições favoráveis na obtenção de emprego (substituíram os sindicatos livres, entretanto proibidos)
· a Dopolavoro na Itália e a Kraft durch Freud na Alemanha, associações destinadas a ocupar os tempos livres dos trabalhadores com actividades recreativas e culturais.
O Estado totalitário fascista investiu muito no controlo das mentes e das vontades. A propaganda mostrou-se como um forte auxilio. Uma gigantesca máquina de propaganda, apoiada nas então modernas técnicas audiovisuais, promovia o culto ao chefe, publicava as realizações do regime e submetia a cultura a critérios nacionalistas e até racistas.
O CULTO DA FORÇA E DA VIOLENCIA E A NEGAÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS
A violência esteve no âmago do fascismo e do nazismo. Ambas as ideologias repudiavam o legado racionalista e humanista da cultura ocidental.
A violência acompanhou, desde o inicio, a prática fascista. Na Itália, ainda Mussolini não conquistara o poder e já os esquadristas semeavam o pânico. Só mais tarde, os esquadristas foram reconhecidos oficialmente como milícias armadas do Partido Nacional-Fascista. Cabia-lhes vigiar, denunciar e reprimir qualquer acto conspiratório. Idênticas funções que competiam à policia politica.
O mesmo aparato repressivo e atentatório dos mais elementares direitos humanos à liberdade e à segurança teve lugar na Alemanha. O Partido Nacional-Socialista criou as Secções de Assalto (S.A.) e as Secções de Segurança (S.S.), milícias temidas pela brutalidade das suas acções.
Com a vitória do nazismo, as milícias e a polícia política (Gestapo) exerceram um controlo apertado sobre a população e a opinião pública. A criação dos campos de concentração, completou o dispositivo repressivo do nazismo. Administrados pela S.S. e pela Gestapo, neles se encerraram os opositores políticos.
O nazismo levou ao extremo o racismo que caracteriza ideologias fascistas. Os nazis acreditavam descender de uma raça superior, a raça ariana, a quem incumbia a obrigação de dominar o mundo pela eliminação das raças inferiores.
- A eugenia nazi
O primeiro objectivo do nazismo deveria ser a purificação da raça ariana pela selecção dos seus membros mais genuínos e eliminação dos impuros.
Para isso, desenvolveram profundos estudos para determinar as características da raça ariana e aplicaram as conclusões da analise dos tipos fisionómicos e mentais na depuração eugénica da raça. Isto é, encontrados os indivíduos perfeitos, machos e fêmeas eram acasalados e submetidos à aplicação rigorosa das leis da genética a fim de obter novos cidadãos dotados com as qualidades raciais superiores.
Ao mesmo tempo, deficientes mentais, doentes, portadores de qualquer deficiência ou debilidade eram esterilizados ou eliminados.
- O anti-semitismo
O passo seguinte da política racista alemã era preservar a pureza da raça pela eliminação das raças inferiores que a contaminavam. Entre todas, a mais inferior era constituída pelos judeus que acusavam de serem causadores de todos os males da sociedade. Por conseguinte, fizeram do seu extermínio um dos grandes objectivos políticos.
Numa primeira fase, os judeus foram segregados, boicotados, excluídos. Numa segunda fase, surgiram as primeiras investidas contra as suas pessoas e bens com destruições programadas dos seus locais de culto e de actividade económica, intensificando-se a sua segregação com o seu encerramento em guetos. Numa terceira fase, com o começo da Segunda Guerra Mundial, os judeus foram submetidos às mais humilhantes condições de trabalho e, finalmente, a um extermínio cientificamente preparado que se traduziu no genocídio de milhões de homens, mulheres e crianças nos campos de concentração.
A AUTARCIA COMO MODELO ECONOMICO
Os totalitarismos cresceram à medida que se agravavam as condições económicas e financeiras de uma Europa destruída pela guerra e cresciam as promessas de solução de todos os problemas por ideologias fortemente nacionalistas.
Uma vez no poder, os regimes totalitários fizeram da auto-suficiência económica e da resolução do problema do desemprego poderosos veículos de afirmação do nacionalismo político. Era o ideal de autarcia traduzido na adopção de políticas económicas fortemente intervencionistas através das quais as actividades produtivas eram colocadas ao serviço do Estado.
- Na Itália:
Ganhou particular relevância o controlo da economia pelo enquadramento de todas as actividades laborais nas corporações (página 93).
Paralelamente, Mussolini ficou ligado ao lançamento de amplas campanhas de produção envolvidas por poderosas e, por vezes, espectaculares manifestações de propaganda em que os trabalhadores eram exortados a trabalhar intensamente de forma a conseguir altos níveis de produtividade. As mais famosas foram a “batalha de trigo”, visando o aumento da produção deste cereal, e as campanhas tendo em vista a recuperação de terras para a agricultura e a construção de grandes obras públicas.
As actividades industriais e comerciais passaram também por um forte controlo do Estado, já nos anos 30, com o lançamento de programas de industrialização e de controlo do volume das exportações e importações.
Os resultados dos programas económicos italianos foram positivos, todavia, o desenvolvimento do país fora conseguido à custa de grandes sacrifícios da população, quer em trabalho, quer em impostos, quer em sujeição a rigorosos racionamentos do consumo.
- Na Alemanha:
Hitler não divergiu substancialmente das políticas económicas adoptadas por Mussolini. Tornar a Alemanha independente dos empréstimos estrangeiros pelo relançamento da economia e, ao mesmo tempo, resolver o problema de 6 milhões de desempregados foram a bandeira da propaganda que levou os nazis ao poder. Para o conseguir, Hitler levou a cabo uma politica de grandes obras públicas, como a construção de auto-estradas e outras vias de comunicação e desenvolvimento do sector automóvel, aeronáutico, químico, siderúrgico e da energia eléctrica.
Relevante no combate ao desemprego e na captação da simpatia dos grandes industriais alemães foi o relançamento da indústria militar e a reconstituição do exército e da força aérea, contrariando as imposições de Versalhes. Nos finais da década, a Alemanha estava plenamente remilitarizada e preparada para se lançar na conquista da Europa.